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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Post nostalgia #4

Hoje de manhã ao ver o facebook encontrei uma "declaração de amor" de uma pessoa muito especial. Uma declaração de amor à família, aos entes queridos que partem e nos deixam coisas boas e que continuam a iluminar as nossas vidas através das suas memórias, do que deixaram dentro de nós na nossa personalidade, no nosso sorriso, no nosso choro, no que somos.
Felizmente não perdi muitos entes queridos ao longo da minha vida. Pelo menos daqueles muito próximos. A perda há sete anos de uma tia materna e de um primo, filho dessa tia, foi um choque para a família. Para mim. Para a minha mãe, que perdeu a sua irmã mais velha, a sua segunda mãe.
Os meus avós maternos não conheci e estão dentro de mim através do que a minha mãe é e das suas próprias memórias emocionadas quando fala deles. Perdeu a mãe com 15 anos. O pai morreu dois meses antes de eu nascer. Momentos difíceis. Nunca conheci bisavós deste lado da família.
Do lado paterno ainda tenho avó, bem velhinha já. E envelheceu em dois anos. Assim, de repente. Olho para ela e vejo a apagar-se. No entanto, pela personalidade, pelo que foi, pelo que deu aos outros, não é aquela pessoa que marca a família. Pelo menos não da forma mais positiva. Mas reconheço-lhe contudo características boas. Que me deixam vaidosa. Mulher forte, não se deixava abalar. Em momentos de crise punha a mão na anca e levava tudo à sua frente. Numa semana perdeu mãe e marido. Difícil. Muito. Nem quero imaginar. Forte. Mas pobre de afectos... filha de uma bisavó afectiva. Há coisas que não se percebem. Lembro pouco dessa bisavó.
Depois há o avô paterno. Tinha 5 anos quando ele morreu mas as memórias ficam para a vida. As memórias que tenho dele. As memórias que o meu pai, filho, vai perpetuando em mim. As memórias que a minha mãe vai perpetuando em mim (amava o sogro como a um pai, tenho a certeza disso). E os meus tios. Diria que o meu avô ainda hoje faz parte das nossas vidas. Dos filhos e dos netos. É um marco na nossa vida. Mesmo da neta que quando ele morreu tinha dois anos. Depois da morte dele não nasceram mais netos. Conheceu-os a todos. Eu fui a primeira rapariga, menina dos olhos dele. Lembro-me dele apoiada em fotos, em testemunhos de outrém, em memórias difusas dele com um riso malandro e peculiar a dar-me sugos e eu a agarrar-me às pernas dele (chiça, ainda me emociono a lembrar e a escrever isto). Entre a família ele é inatingível. Ele e a sua mãe, a "avó velhinha" de quem bem me lembro e que sobreviveu dois anos ao filho e isso terá sido demais para ela. São aquelas duas pessoas especiais porque são transversais às memórias de todos. Filhos e netos.
Ocorre-me muitas vezes o que teria acontecido se vivesse mais anos. E tenho medo do que penso. Tenho medo de pensar que quando as pessoas morrem na nossa idade da inocência são sempre boas. Cristalizamos ali nas nossas memórias delas. Depois lembro-me do que o meu pai e tios falam acerca do pai e sossego.E sinto falta. Muita. Daquele avô, o meu "bu Zé". E dou por mim a pensar que ele tinha tanto amor para dar que o coração dele não aguentou. 

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